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No ano passado, a pesquisa Retratos da Leitura indicou que o Brasil perdeu milhões de leitores. O dado exato é a redução de 6,7 milhões. Somos um país de não leitores: 53% das pessoas que participaram não leram nem parte de um livro. E estamos falando de qualquer livro, incluindo literatura, didáticos, Bíblia e religiosos. Não bastasse o abandono da própria Bíblia - que figurou nos primeiros lugares em edições anteriores -, muitos confessam que consomem textos em redes sociais. Um textão no Facebook pode ser uma crônica? Tenho dúvidas disso.
Além do dado desesperador, tem outra coisa que nos deixa à beira do precipício. Eu acompanho, quase que diariamente, as notícias sobre o mercado editorial. Sabe qual é, atualmente, o tipo de livro mais vendido no Brasil? Sim: livros de colorir. O preço deve ser um impulsionador disso. As publicações são impressas em papel branco, com poucas páginas e miolo grampeado. Mas e a cultura? A evolução intelectual? A leitura, meu Deus. E a leitura?
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Fiquei semanas olhando a lista dos mais vendidos e lamentando. Eis que hoje me deparo com a notícia de um lançamento. A editora Bebel Books vai lançar Suruba para colorir #3. O terceiro volume celebra os 10 anos do #1 e traz 17 festinhas inéditas especialmente criadas para o livro.
Se é pra cair de cabeça e tinta que, pelo menos, seja com sexo? Sim e não. Porque, diferente da maioria dos livros de colorir, este traz o trabalho de autores gráficos. Ou seja: é provocação, é qualidade, é arte. A ficha técnica inclui os cartunistas e artistas Guto Lacaz, Helô D’Angelo, Carol Ito, Pedro Vinicio, Malfeitona, T0sko, Cara de Fofa, Safira, Reberson Alexandre, Emilly Bonna, iaanks, Flávia Bomfim, Batista, Bruna Maia, Ehsan Mehrbakhsh, Fabiane Langona e João Pinheiro. A edição é de Bebel Abreu e o prefácio, de Marcelo Tas.
https://bebelbooks.com.br/produtos/suruba-para-colorir-v3/
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Em "O erotismo", Georges Bataille, escreve:
"Toda a operação do erotismo tem por fim atingir o ser no mais íntimo, no ponto que o coração desfalece. A passagem do estado normal ao de desejo erótico supõe em nós a dissolução relativa do ser constituído na ordem descontínua. Esse termo, dissolução, corresponde à expressão familiar vida dissoluta, ligada à atividade erótica."
(a capa deste livro é sensacional, não?)
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No início dos anos 2010, na onda do bestseller "50 tons de cinza", o mercado editorial foi invadido pelos romances mommy porn, com textos de qualidade duvidosa e sexo fofinho, cheio de descrições leves e, geralmente, fálicas. Este gênero segue em alta, especialmente com autores independentes que invadem a plataforma de autopublicação de ebooks na Amazon. E avançou: da temática homossexual à literatura mitológica de galãs tritrões com muito tesão (sim, tritões e não trintões - dá um Google aí).
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Então tudo bem! Erga o seu lápis e passe um creme nas mãos... Para pintar e virar as páginas. Ora. O que você está pensando... Aproveitando o clima, vou indicar algumas leituras para os intervalos da sua pintura de Suruba para colorir. Lá vem a ala da literatura erótica para você aproveitar na intimidade do seu quarto.
"A casa dos budas ditosos", de João Ubaldo Ribeiro. Um clássico nacional do gênero.
"Delta de Vênus", de Anaïs Nin. Uma coleção de contos escrita na década de 1940.
"As idades de Lulu", de Almudena Grandes. Um clássico da literatura mundial, que marcou gerações.
"A vida sexual de Catherine M", de Catherine Millet. Autoficção erótica, contando com objetividade, sem qualquer máscara, sobre a vida sexual da autora.
"História do olho", de Georges Bataille. O meu preferido da vida.